Desenhar é como caçar.
O artista, predador, fica rondando o papel, sua presa. Nem sempre o ataque é instantâneo. Às vezes, leva um tempo. Fica rodeando a presa... Analisando seu comportamento, suas possíveis rotas de fuga, suas defesas.
Você pode pensar que é só no momento em que tem fome que o artista caça. Não. Mesmo sem fome, é preciso se alimentar. É como um combustível, não para o corpo, mas para a mente, a alma... Fatores externo e internos podem atuar e mexer com as sensações, mexer com sua fome, a ponto de não mais a sentir.
Mas é preciso se alimentar. É preciso saborear o momento e o resultado. Há que se ter um resultado bom quase sempre, senão perde-se o desejo e o empenho na caçada. É preciso dar o melhor de si, mesmo sabendo que o resultado pode não ser o melhor possível.
E então, depois desse "namoro" intrigante, vem o ataque, e lápis, tinta e borracha se intercalam em meio a uma dança intensa, uma imersão absurda. Perde-se a noção de tempo, e esquece-se até de respirar enquanto a adrenalina entra e seu sangue ferve.
A sensação de satisfação não é só pelo "alimento". É pelo prazer da caça, pela adrenalina, pela catarse criativa. É olhar o resultado daquilo e sentir algo maior do que fome saciada.
Mas às vezes, o artista ronda e ronda, e sabe que se atacar, tem grandes chances de conseguir. A arte vai sair, a caçada vai acontecer, talvez com menor intensidade e prazer. Mas aí, ele olha para o resultado, e, enquanto se recompõe, sabe que poderia ter tido uma performance melhor. Sabe que o sabor daquilo poderia ser melhor. Mas hoje, não foi. Às vezes, não é. Sem sempre é possível ter aquilo tudo, sabor, tesão, adrenalina.
Mas pelo menos, você se alimentou.
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