sexta-feira, 1 de julho de 2022

O paciente paciente

 Como você sabe pelos vários textos e vídeos do último mês, no sábado passado fiz uma cirurgia para remover um adenoma da hipófise. É a segunda vez que faço essa cirurgia e devo dizer que minha expectativa era de passar pelas mesmas coisas da última vez. Mas foi diferente.


E deu tudo certo, antes de mais nada! A cirurgia foi um sucesso, o adenoma foi aspirado (ele não é retirado totalmente porque ele é, de fato, a hipófise e retirar tudo significaria ter que fazer reposição hormonal pro resto da vida), aliviando a pressão que fazia no nervo ótico. 

O procedimento foi o mesmo que da última vez, feito pelo nariz, mas dessa vez pelo que entendi foi feito na outra narina. A parte boa é que foi preciso abrir caminho para o equipamento e isso vai me permitir respirar melhor ainda (a primeira cirurgia já tinha ajudado muito na narina direita). Fiquei com os mesmos machucados na lateral da cabeça por causa dos trequinhos que eu não sei se servem pra segurar a cabeça no lugar ou pra ajudar na neuronavegação. Minha mãe ficou assustada com o machucado deixado mas foi só impressão: o cortezinho é pequeno demais, mas o sangue coagulou lá e parecia um cortão. Ufa! Minha garganta ficou bem machucada por causa do tubo (eu precisava respirar, né) e tá quase 100% agora.

Acordei depois da cirurgia ainda na sala do pós-operatório. Na primeira vez, lembro de acordar já no quarto da UTI. Dessa vez, fiquei lá pra esperar liberar a UTI pra mim. Só que eu fiquei lá por quase 6 horas. O pessoal da enfermagem estava até preocupado porque não me liberavam logo de lá. Mas sei que cada coisa tem seu tempo e a vida tem processos que a gente não tem como controlar. Sou um paciente muito paciente. E fui bem elogiado pela equipe da enfermagem por causa disso. Disseram que por bem menos muita gente dá chilique.


Todo meninão, já no quarto e sem curativo, com minhas super meias estilosas

Ainda sinto um pouco de dor e minha voz ainda está rouca e um pouco falha. Parte disso se deve ao tubo, e outra parte se deve ao fato que meu nariz ficou totalmente tapado por uns dias. Primeiro, por causa do curativo, um tampão que parecia um nariz de porquinho, hehe. E depois por causa das coisas lá dentro, edemas e mucosas e coisas blergh. Logo melhora.

Estou dormindo muito melhor agora, também, porque consigo de fato respirar pelo nariz e isso ajuda a não machucar mais a garganta... Além do fato de que teve noites que eu não conseguia dormir porque acordava com o próprio zumbidodo meu nariz tapado tentando puxar o ar. Coisa doida. Dormindo melhor também porque, afinal, estou em casa. Ficar na UTI é complicado, por mais que eu tenha tido o privilégio de ficar num quarto sozinho e que podia ter acompanhantes boa parte do tempo (A Monica e meus pais ficaram lá comigo um tempão!). É barulho o tempo todo, gente entrando pra checar os sinais vitais, dar remédio, medir coisas. Tudo dentro do esperado, mas sabe né, dormir é bom também. 

Sobre dormir ainda, meu vizinho de UTI dificultou um pouco o processo. Era um cara provavelmente da minha idade, que falava bem alto. Ele estava com crises renais e tinha outros problemas de saúde e mobilidade, e soube que ele estava muito confuso com a situação toda. Foi tenso ouvir ele chamando os pais e pedindo ajuda. No começo eu achei que ele era filho de uma paciente que estava morrendo. Depois entendi que era ele que estava internado e que falava umas coisas meio nada com nada. Teve o momento em que ele chamou o delegado e queria provar sua inocência pra ser solto. Noutra, chamou o pastor pra tirar o gato vermelho e rosa que tinha no quarto dele. Não conto isso pra achar graça, foi meio triste mesmo, mas ainda assim parte da experiência de estar lá.

De outro lado, algo bem legal foi ter conhecido meu xará Mário, enfermeiro do turno da noite. Ficamos um tempão conversando. Ele se interessou muito quando falei que sou quadrinista e engatamos uma conversa longa em que ele me contou que se veste de super-herói para visitar crianças enfermas nos hospitais e até em suas casas. Seu principal personagem e favorito da galera é o Homem-Aranha. Mário me contou umas histórias muito bonitas e inspiradoras, e sonha em produzir uma HQ (ou várias) adaptando suas aventuras como super-heróis enfermeiro. Falei que poderia ajudar como pudesse, porque seria um projeto muito especial mesmo. Acho que está aí meu próximo aluno de mentoria. O Mário é muito gente boa e você pode conhecer mais dele e de seu trabalho pelo Instagram. 

Não só o Mário Aranha como toda a equipe do hospital, foram incríveis. O atendimento, cuidado e carinho, somados à estrutura, especial demais. Vale a pena pagar por anos o plano de saúde, porque quando precisei mesmo, tudo correu maravilhosamente bem. 

Na primeira cirurgia, fiquei um dia na UTI e três no quarto, sendo que só um deles sem o tampão de curativo. Ainda dividi o quarto de recuperação com um senhor bem na dele. Dessa vez, fiquei nem dois dias no quarto e não tive roommate.

A cirurgia começou perto das 7 da manhã de sábado. Terminou cerca de 10h30. Cheguei à UTI, como falei, 6 horas depois do fim da cirurgia (colaborando pro mega chá de cadeira que meus pais e esposa levaram), lá pelas 16h. Recebi visitas, cochilei, conheci gente nova, assisti 007 - Sem Tempo pra Morrer e Entre Facas e Segredos (curiosamente, ambos com Daniel Craig e Ana de Armas).

No dia seguinte, já tiraram o tampão do nariz e pude ir pro quarto. Fiquei lá mais uma noite, assisti Homem-Aranha 2 e tive alta no dia seguinte pela manhã, depois que o médico viu que eu tava bem. Na segunda, pela hora do almoço, já estava em casa. 

A recuperação tem sido muito boa, acima da expectativa!  Não sei dizer se minha visão melhorou. Talvez esteja igual era antes, talvez um pouco melhor. O que sei é que o dano causado pelo primeiro adenoma não parece ser reversível e meu olho esquerdo vai ser pra sempre meio falho, mas tudo bem. Isso não prejudica demais minha vida (falei disso com detalhes naqueles vídeos do meu canal). O importante é que eu não tenho mais aquele treco lá dentro e não corro o risco da visão piorar. 

Já de volta ao lar, estou retomando minhas atividades gradualmente. A Monica tem se desdobrado aqui pra dar conta das coisas enquanto eu fico de repouso, mas já estou me coçando pra voltar à ativa. Me sinto muito bem, apesar do nariz meio tapado ainda, da garganta ainda um pouco dolorida e de um pouco de tontura se me mexo demais. Semana que vem já devo estar totalmente de volta.

Aproveito pra agradecer todo mundo que mandou, de alguma forma, uma energia boa pra mim. Tudo deu super certo e sei que essa força fez parte da experiência. Agora, é continuar em frente que tem muita coisa legal ainda pra fazer.

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