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sexta-feira, 28 de junho de 2019

Ser Autor - Como você gerencia sua Energia Criativa?

Acompanho o trabalho do Jake Parker há um tempo. Seja nas redes sociais (especialmente o Instagram, onde podemos ver sua arte), seja no YouTube (onde ele teve uma fase muito boa criando conteúdo para artistas,quadrinistas e empreendedores criativos), ele sempre traz uma sabedoria de quem tem vivência com uma leveza que, pensando nos tempos acelerados que vivemos, é meio rara. Todo seu perfil dialoga com o meu, e aprendo muito com ele em todas as suas produções. O cara é uma grande inspiração e hoje não foi diferente.

Assinei a Newsletter do Jake há umas semanas, para me manter em contato com suas reflexões, e hoje recebi uma bem bacana. Ele comenta sobre um livro que está lendo, chamado "War of Art", de Steven Pressfield. E um dos trechos que ele cita e depois reflete sobre me deixou pensando. 

Nos últimos meses, tenho andado desanimado, sem inspiração e um pouco confuso com meu trabalho. Tendo concluído praticamente tudo de Monstruário Vol.2, minha ideia era seguir em frente para o próximo projeto. Porém, por motivos diversos, Monstruário não evoluiu como esperado, e continua em fase de pós-produção e revisão. Na minha cabeça, a essa altura, já deveria ter saído, mas forças além da meu alcance fizeram com que o lança,mento atrasasse. O livro vai sair, sim, com toda certeza, mas não mais no primeiro semestre como prometido. 

Meu alento é saber que eu fiz toda a minha parte e mais, sempre estando presente no processo quando necessário. Inclusive, como editor. Essa presença tirava o foco do próximo projeto, que, vejam só, acabou também sendo deixado em segundo plano por motivos além do meu controle. 

Em meio a um tipo de limbo, onde eu não sabia direito o que fazer e tinha uma lista de coisas pra serem feitas, a energia para produzir arte só diminuía. Então, tarefas, projetos e obrigações ligadas ao campo criativo foram ficando mais difíceis de resolver. Estava desanimado, e em alguns momentos, desacreditado, num panorama grande. Não só com o meu projeto atual, mas com o mercado inteiro e as possibilidades para o futuro. Meio dramático, mas hey, eu sou assim.

Nos últimos dias, as coisas têm melhorado. Depois de passar uns dias doente e bagunçado por causa do antibiótico, graças à volta para terapia (a real, não a HQ...), a conseguir organizar e resolver questões internas aqui de casa (vida real, ela existe), e determinar que tal e tal projeto, agora, não vão ter mais minha prioridade (afinal, de que adianta eu ficar em stand by para que processos que não dependem de mim evoluam se isso só me traz ansiedade e desânimo...?), consegui desenhar umas coisas e retomar o projeto que, esse sim, depende apenas de mim.

E foi nessa sexta, depois de uma semana me reorganizando, que o Jake chegou com sua Newsletter e me brindou com essa reflexão, que traduzi para vocês:

"Vou deixá-los com uma coisa que têm me dado muito oque pensar. A força gravitacional do seu trabalho.

Na página 108, Pressfield diz: 'Quando nos sentamos, a cada dia, para fazer nosso trabalho, um poder (ou força) se concentra em torno de nós.' Produzir alguma coisa nos custa energia, mas quando você comparece para fazê-lo (e aqui eu quero dizer, de fato botar a caneta no papel) os deuses da criatividade emprestam sua mão e ajudam. 

No final do dia, você tem uma pequena massa de matéria criativa que consegue se manter estável. Quanto mais você trabalha nisso, mais massa criativa seu projeto acumula, até que ele tem o suficiente para te tirar da cama e te sugar pra dentro dela todo dia. 

Porém, deixa-a de lado e a consequência é menos atração. Se você largar mão de uma ideia ou projeto, eles flutuam pra longe ao invés de se agregar à massa criativa.

Tudo isso para dizer que você precisa se mexer e fazer o seu trabalho criativo. E ser consistente. É o único jeito de se concluir qualquer coisa."

Bom, eu não poderia concordar mais. A frequência, a assiduidade do autor em seu projeto, faz muita diferença. A inércia é sempre complicada de romper, e vivemos uma época onde procrastinação, ansiedade, auto estima e tantas outras questões podem abalar nosso rendimento como artistas. Essa citação do Jake é muito pertinente porque ressoa com muito doque acredito ser verdade no processo criativo. Não adianta ficar parado esperando ou culpar fatores diversos pela falta de resultados. Você precisa agir, mergulhar, se permitir focar no que ama e fazer tudo de forma profissional e apaixonada, e isso vai criando uma energia muito boa em torno da sua rotina e do seu projeto.

Eu tenho uma teoria (que vai virar um vídeo no meu canal em breve) que compara nosso desenvolvimento em projetos com um trem: é preciso, no começo, romper a inércia e forçar a máquina a se mover. Eventual,ente, você atinge uma velocidade estável e os resultados também vão sendo gerados de forma estável, até que você precisa parar. Quanto mais tempo a locomotiva fica parada, mais difícil é romper novamente a inércia e mais  energia você vai ter que usar (mental e física) para se aproximar daquele fluxo incrível de produção, a submersão tão almejada e que faz tudo parecer fácil.

Então, após vários dias de inércia, me sinto novamente fazendo a máquina andar, rompendo a ferrugem mental e física. Eu simplesmente amo estar "in the zone", produzir, desenhar e editar com ritmo,com paixão, com tesão. E não é sempre que isso acontece. A vida, jovens, às vezes vai te exigir a presença noutras questões, e é preciso saber onde investir energia e planejar tudo, não só seus projetos artísticos, mas a vida toda. Faça disso sua responsabilidade, seja profissional no trabalho e atencioso,carinhosos e dedicado na sua vida real (mas não gaste sua energia com coisas que te deixam pra baixo, a vida é curta pra perder tempo com o que não nos faz bem). 

Meu próximo projeto vai ser anunciado no meu próximo vídeo do YouTube, enquanto aguardamos novidades sobre o lançamento de Monstruário Volume 2.

Se você curtiu esse texto e esse assunto, deixa seus comentários! Fale oque pensa e oque sente sobre isso, e vamos trocar ideias.

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Opinião - Sobre a vida de artista...

Um tempo atrás, recebi um email do Rodrigo, me perguntando sobre vários aspectos da vida de quadrinista, professor, artista, ilustrador... Enfim, tudo o que eu faço, meu trabalho.

Não é a primeira vez (e, com certeza, não será a última) que alguém me pergunta sobre isso, e as respostas são sempre tão longas e precisam de tanta elaboração, são tão relativas, que a cada vez que respondo penso que deveria ter salvo tudo aquilo para disponibilizar aqui no Blog. Isso pode ser útil de verdade para alguém, que como o Rodrigo, tem interesse em se aprofundar nas áreas em que eu atuo, assim como para novatos que têm interesse no funcionamento do nosso mercado (esse termo é meio complicado, mas vamos deixar a discussão sobre existir ou não um "mercado" pra próximos textos...).

Seguindo o conselho da minha esposa, vou começar a reunir essas respostas aqui no Blog, com a esperança de que elas possam ser úteis a mais pessoas. Meu tempo é cada vez mais escasso para poder me dedicar a falar por um longo tempo sobre isso para uma pessoa de cada vez. E tem muitas informações que são específicas para cada caso, mas também tem muita coisa que serve pra muita gente. Pretendo, em breve, fazer mais compilados desse tipo de informação.

Abaixo, segue um resumo, editado, da pergunta do Rodrigo, e a minha resposta na íntegra. Ah, em tempo, o Rodrigo me autorizou a publicar a resposta. Valeu, Rodrigo! Espero que tenha sido útil de verdade.

P: Conversei com você na Comic Con, do ano retrasado. Falei que tinha lido suas histórias, uma que falava que você tinha aprendido muita coisa sobre arte na Unicamp, mas de uma outra maneira.(...)
Temos afinidades, gosto do seu trabalho, e acho que é proveitoso trocar experiências com você.
Num fórum que você participa, voce comentava sobre como viver dos quadrinhos, ou da arte de desenhar. 
Bem, queria saber sobre isso com você. Como você faz para viver dessa arte, do desenho? Você disse que dava aulas também. Onde? Que sugestão dá para alguém que queira viver do desenho? (...)
Tenho tentado viver do design gráfico. Estudei Artes Visuais e atualmente faço Produção Editoria, mas é um mercado difícil. Queria saber que sugestão daria? (...)

R: Oi, Rodrigo. Tudo bem?

Bom, cara, vou começar sendo bem sincero: muito do que você está me pedindo só daria pra te ensinar/passar/instruir em um curso ou num longo papo, e eu infelizmente não posso fazer isso via e-mail. Eu já conversei com muuuitas pessoas pela internet (e ao vivo também) e sempre fico com a impressão de que não consegui passar tudo oque é preciso, tudo que apessoa quer... E isso é porque não tem como, mesmo, hehe. Não por email, chat, etc.

Tem muito conteúdo  importante que um artista precisa ter para ser um bom profissional. Não é só técnica de desenho, tem todo um lance de gerenciar o próprio trabalho e projetos, negociar, saber lidar com clientes, saber o valor do seu trabalho... Você já tem uma graduação boa, tá fazendo mais um curso, e nosso lance é estar em constante evolução. A gente nunca está pronto, porque nunca deveria deixar de buscar novas soluções, aprender técnicas e estudar referências. Enquanto estiver vivo e curioso você vai evoluir como artista, designer, editor... 

De qualquer forma, veja só, eu me formei em Artes Visuais. Nada na minha graduação foi direcionado para HQ ou ilustração. (Nem minhas aulas na faculdade de educação e pedagogia foram realmente decisivas pra meu trabalho como professor.) Mas, no que diz respeito a ser artista, a graduação me forneceu uma experiência incrível e eu evoluí muito como artista, mas porque estava disposto a conhecer mais, a explorar mais. Antes da faculdade, fiz uns 4 anos de curso de desenho com dois professores. Um deles é um gênio, um artista múltiplo e que ensinou muuuuito, mas que não tinha conteúdo para HQ, não do jeito que eu buscava. O segundo era um veterano datado e que não entendia o mercado atual, mas que me ensinou bastante mesmo assim. Fiz outros vários cursos livres, workshops, palestras, etc. Estava sempre em busca de mais, queria conhecer mais, me inteirar melhor, estar no meio, no mercado, inserido. Participei e participo de coletivos, grupos de autores, listas de discussão. 

Mas além de tudo que eu estudei ao longo da vida, o que mais me fez evoluir como artista profissional foi produzir. Produzir muuuito. Outra coisa que ajudou foram as parcerias que fiz com outros autores que assim como eu estavam começando, e não ganhei nisso só experiência e contatos, mas tbm fiz grandes amigos. Não importa se oque vc fizer vai dar grana ou prêmios ou fama. Isso não importa. O que importa é vc investir no que ama.

Mas tem a parte financeira que é um dilema. Bom, eu ganho a vida e pago minhas contas, ainda que sem imensos luxos, com arte. Já fui professor de ensino médio e fundamental, de Artes, em colégios. Hoje dou aulas de desenho, HQ, ilustração, cartum, etc, na Pandora Escola de Artes, em Campinas, onde moro. Dar aula de desenho (ou outras coisas que vc domina) é mto bom pq te faz sempre revisitar as raízes e os fundamentos, e claro, colaborar com o crescimento de novos artistas. Mas, pra dar aulas, vc não precisa de graduação necessariamente, depende do lugar. O que importa mais é ser um bom desenhista, um bom professor e um cara bacana, hehe

Além de dar aulas, eu faço freelas de ilustração e HQ para diversos clientes, grandes e pequenos, através de agências, produtoras, editoras, etc. Tudo que veio de trabalho nesse sentido foi por indicação de outros artistas e profissionais, por ter protfolios online em diversas plataformas e por ter corrido atrás de conexões e networking.

Quadrinhos é o que eu mais amo mas é o que menos dá dinheiro. Eu faço e sempre fiz por amor e como investimento na minha carreira, no meu trabalho, no mercado nacional, etc. Eu vendo os livros, produzo material independente, estou nos eventos, mas não posso nunca contar só com o que vem do meu trabalho em HQs pra sobreviver.

Meu conselho seria vc buscar  empregos fixos e que te paguem de forma justa nas áreas que vc domina e gosta. E gradualmente ir fazendo seu nome, criando um bom portfolio, fazendo contatos, evoluindo. Se vc tiver como pagar suas contas e ainda assim se dedicar a arte, seja em projetos pessoais ou freelas, isso é maravilhoso. Tira um peso grande das costas, hehe. E vc produz com mais tesão.

Seu trabalho é legal, vi seu portfolio. Gostei mais, na verdade, do que vc faz em diagramação,desigm, tipografia. Os desenhos e pinturas digitais são legais mas ainda precisam de muito estudo em anatomia, perspectiva, luz e sombra, estilização... Ou seja, vc precisa estudar mto mto mto desenho. São os fundamentos, aquelas coisas meio chatas e repetitivas, mas que vão solidificar seu estilo e te encher de repertório, técnicas e soluções pra que seu trabalho fique cada vez melhor e mais seu. Tem potencial, sempre, mas precisa evoluir mais e mais pra que o mercado te veja como o profissional que vc almeja ser.

Bom, empolguei e escrevi muito mas espero ter ajudado. Não é fácil, cara, ser atista e viver disso. Mas tbm não é impossível. Depende muito das escolhas que vc faz e de como vc entende o mercado, e do que espera dele. Mas lembre que não é sobre ser famoso, rico e fodão. É sobre fazer o que ama, conseguir pagar as contas de forma honesta e ser eternamente curioso e focado em melhorar. 

Abração e boa sorte!