sexta-feira, 26 de junho de 2020

Acolhida de Aula - Quinta, 25 de junho de 2020

Bom dia, pessoal! 
Ontem postei um textão aqui no Blog. Se vocÊ não leu, é só pegar a postagem imediatamente anterior a esta. Vai lá, eu espero. 
Foi? Ok.
Continuando: Eu não queria que esse textão tivesse como resultado apenas a verbalização das coisas que me incomodam (e eu fui econômico nas informações), mas sim que pudesse ser um motivador pra que pelo menos alguma coisa fossa resolvida. Aqui está o link: http://mariocau.blogspot.com/2020/06/diarios-de-quarentena.html)
Quero dizer que ainda ontem, eu consegui quebrar essa inércia estranha e desenrolar algumas coisas. Pouco, na minha opinião de workaholic e sedento por resultados, mas ainda assim, algo foi feito. 
E nesse movimento, eu encontrei coisas muito interessantes. 
Decidi falar sobre elas no meu texto de acolhida para as aulas virtuais da Pandora Escola de Arte. Toda semana, eu escrevo um texto para os alunos no começo da aula. Fiquei pensando que esses textos podem ser interessantes não só como registros mas como reflexões sobre um monte de coisa. Podem ser interessantes para vocês, também.
Então, decidi publicar todas as minhas acolhidas - ou pelo menos as mais interessantes - aqui no Blog também. Serão posts retroativos, fora da ordem cronológica, mas com a data original de escrita e publicação na sala de aula virtual como título do post. Assim como fiz com esse post aqui.
Sem mais, fiquem com a acolhida do dia 25 de junho de 2020:
=====================================

@canal Bom dia, tarde, noite ou madrugada, pessoal! Como estão por aí? Como anda a "vida real"? Será que estamos na Matrix? :thinking_face:

Começo a aula de hoje com um pouco de reflexão. Ontem, tirei uns minutos para escrever um textão pro meu Blog, tentando organizar os meus projetos e ideias e relatando brevemente como está cada fatia da minha vida que é afetada pela quarentena. É importante que possamos falar sobre o que nos aflige, pois comunicar é organizar e organizar é bom pra jogar fora o que não serve, enxugar as coisas a uma forma mais coerente e compreensível. Na terapia, no diário, no twitter, blogs ou no papo com amigos, amantes ou família (saudades, mesas de bar e cafés): qualquer lugar que te proporcione organizar as ideias, mesmo que seu interlocutor seja uma folha de papel, é extremamente válido. Reflexão e autoconhecimento são coisas poderosas e só nos fortalecem, mesmo quando nos fazem ver nossas fraquezas e falhas: é ao identificar essas questões que podemos partir para reparos e reformulações. 

Esse texto no Blog, enfim, onde eu confesso estar travado no desenvolvimento de todos os projetos de quadrinhos, me fez tentar romper tal bloqueio por simplesmente passar a limpo no computador as anotações para um roteiro. Nas anotações do sketchbook, encontrei uma breve menção a "uma técnica japonesa de consertar cerâmicas quebradas com ouro", e fui buscar o nome correto disso: é Kintsugi (金継ぎ). É lindo, caso queiram saber mais: https://pt.wikipedia.org/wiki/Kintsugi

Do Kintsugi, acabei relembrando do Wabi-Sabi (侘寂) (https://pt.wikipedia.org/wiki/Wabi-sabi), outro "conceito" muito interessante. Coloquei conceito entre aspas porque é muito imensamente simples. Basicamente é uma forma de estética japonesa que valoriza as imperfeições e a casualidade, a simplicidade nas coisas. Refleti um tanto sobre essas questões, indo de TED Talks a Blogs de decoração (a galera do design de ambientes adora Wabi-Sabi) a filosofia zen. Tudo me encantou.
E fiquei pensando: por um lado, pra nós, ocidentais acidentais, acostumados a consumo e excesso, a designs diversos e uma vida quase tomada por poluição visual (quase??) pode ser difícil de compreender e até mesmo de aplicar o Wabi-sabi. No desenho, na arte, como fica isso?

Eu cheguei à conclusão, sem querer parecer O ILUMINADO, que desde um tempo atrás, lá pela época da faculdade, eu já pensava nisso e já vinha entendendo certas questões do Wbi-Sabi, em relação à arte. 

Nós temos uma busca incessante pela perfeição. Associamos a falta absoluta de falhas como sucesso, algo desejável. Queremos, com nossos resultados, impressionar pelo excesso de detalhes e informação, pela precisão impecável nos traços e cores, pela verossimilhança com a realidade... Queremos que nossa arte seja perfeita, mesmo quando fazemos um desenho no sketchbook (que, convenhamos, é um caderno de RASCUNHO). 

Uma coisa a se pensar é que existe muita beleza nas imperfeições, na simplicidade. Muitas vezes, três ou quatro traços colocados no papel trazem muito mais energia,vida e emoção do que um desenho hiper-realista que levou semana pra ficar pronto. 

Qual é a satisfação que você busca com seu desenho? Se o seu lance, onde vc se regojiza, é em visualizar o resultado de um trabalhoso processo como uma manifestação de ápice técnico, acho que tudo bem, claro. Ninguém poderá te dizer que você não desenha corretamente ou que seu estilo não é válido, mas acho importante refletir pra entendermos se oque queremos gerar em artes é o que NÓS queremos de coração, ou se é o que o mundo acha que deveria ser. Se for a segunda opção, repense.
Se você busca na arte uma forma de se expressar, comunicar, entreter, impressionar, incomodar... Seja o que for, é válido, desde que seja honesto. A tal da "busca por um estilo" que a gente tanto fala em aula, não deve ser uma busca por satisfazer a expectativa dos outros ou de uma visão de um mercado ou fandom. Deve ser uma busca pela NOSSA PRÓPRIA forma de nos expressar, e isso é construído ao longo de muito estudo, prática, imersão, reflexão e consumo constante de referências que fazem sentido para você. 

Lembrem do Van Gogh, que teve uma revelação quando conheceu gravuras japonesas, e o quanto isso influenciou sua obra. Movimentos artísticos à parte (até porque eles só vão ser rotulados, embalados e simplificados posteriormente), cada um de nós é, ao mesmo tempo, produto do nosso tempo, ambiente e referências, e também fruto do que construímos internamente a partir do que faz sentido para nós.

O Wabi-sabi, então, para voltar ao assunto, pode ser uma forma de entender que mesmo um desenho tortinho tem valor. Mesmo seus 20 rascunhos de estudo de um tema são bons (e necessários!). Aquele desenho que você faz pra testar uma coisa diferente, um material ou uma estética, tudo isso é válido. É parte do seu caminho. E muitas coisas interessantes e bleas vão surgir se você se permitir desenhar, sem lastro e sem expectativas imensas. Tenha os seus objetivos, eles são importantes. Mas não se frustras hoje porque ainda não atingiu esse objetivo é gastar uma energia desnecessária. Você vai chegar lá. Mas pra chegar lá, tem caminhos a trilhar. E, em arte, só se trilha caminhos fazendo, testando, arriscando, entendendo, refletindo e valorizando mesmo os resultados que, à vista do modo de pensar ocidental e exigente, parece "errado, imperfeito ou inutilizável". 

Bons desenhos e boas energias para nós. 
====
Links legais: 
====

Nenhum comentário:

Postar um comentário