sábado, 24 de setembro de 2022

Uma Pinguim Voando Alto (Newsletter)

Este texto foi publicado originalmente na Newsletter Quebra-Cabeça, edição 41, em 29/8/2022.

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      Uma Pinguim Voando Alto      

 

Estou escrevendo esse texto, finalmente, no dia 29 de agosto, e amanhã já vai fazer uma semana que eu devia ter escrito. Mas a vida, sabe como é, vai colocando coisas na frente e nem sempre a gente tá pronto pra fazer oque quer fazer. Comecei a escrever essa edição pelas coisas "menos importantes" e o assunto principal não consegui nem começar. 

É doido como essas grandes coisas da vida são tão grandes que nos pedem mais tempo e reflexão para poderem ser processadas e, aí sim, comunicadas. Tem fichas que parecem não ter caído ainda. O lance é que algo muito importante aconteceu na minha vida e da Monica, e finalmente eu posso contar pra vocês.

Mas calma, não estamos grávidos. :)

Já vai fazer uma semana que a Monica não mora mais aqui. Mas calma parte 2, nós não nos separamos. :)

A Monica está nos Estados Unidos trabalhando como professora em uma universidade, ensinando português. Mas calma parte 3, a história é bem maior que isso :)

Eu gosto de um drama, da narrativa, de criar expectativas para uma história. Também gosto de contar as coisas cronologicamente e dar as informações necessárias. Muitas vezes, isso pode acabar entediando o meu interlocutor (sei que várias pessoas preferiam que eu fosse mais direto ao ponto *). Então vou tentar ser mais resumido, até porque logo vem um vídeo no canal pra falar disso também (tenho públicos diversos, hehe).

Um tempo atrás, a Monica se inscreveu num programa chamado Leitorado, que tem como objetivo criar parcerias entre o Brasil e universidades mundo afora para levar aulas de português aos alunos internacionais. Ela passou em primeiro lugar (orgulho!) numa universidade na Califórnia, mas infelizmente a universidade saiu do programa antes de dar certo. Naquela época, a gente ficou muito empolgado e iríamos juntos pros EUA. Eu ainda era professor da Pandora e naquele momento partir para uma "aventura" dessas me empolgou demais.

Na próxima edição desse edital, ela se inscreveu de novo, dessa vez para uma universidade no estado de Nova York, e passou, de novo, em primeiro (orgulho duplo!). Só que a universidade, após as entrevistas individuais, preferiu contratar a moça que ficou em segundo lugar, muito por ela já morar nos EUA (e isso facilitaria muito pra eles em termos burocráticos). Ela foi, só que no começo desse ano, desistiu da vaga.

Agora, volta um pouco no tempo. Muitos anos atrás, a Monica prestou um concurso para a rede municipal de ensino daqui de Campinas. Ela passou (se não me engano, ficou numa lista de espera logo após os convocados), mas só foi chamada para assumir um cargo em 2018, pra começar em 2018. Seriam três anos de probatório antes de ser efetivada de fato e ter estabilidade e tudo mais. Vieram as aulas, mudança de escola e a pandemia. Em fevereiro de 2022, o probatório concluiu e ela foi efetivada.

Uma semana depois de ser efetivada, a universidade de Stony Brook entrou em contato avisando que a vaga estava aberta novamente e seria dela, caso quisesse.

Nesse momento, eu já tinha saído da Pandora e estava meio preocupado com meu futuro financeiro e tinha que cuidar de todo o gerenciamento da campanha do Terapia Vol.2. Estávamos passando pela reforma dos armários (que rendeu até série de vídeos no meu canal) e tudo parecia instável e incerto. eu estava confiante no que tínhamos combinado: naquele ano eu ia (voltar a ) investir na minha carreira pra tentar chegar onde eu sempre quis chegar e o cargo estável dela na rede vinha bem a calhar. Então, no meio de todas as coisas desmontadas e a incerteza de como seria o futuro, eu fiquei muito inseguro sobre essa grande mudança pros EUA.


Mas em momento algum desencorajei a Mo. Conversamos MUITO, mas MUITO MESMO sobre todas as possibilidades e desenrolares de nossas decisões, numa época que apelidei carinhosamente de Multiverso da Loucura porque tudo que pensávamos fazer vinha com uma série de consequências derivadas que, sei lá por que, sempre culminavam em algo pessimista. Rolava um medo real de decidir por algo que trouxesse problemas futuros, frustração e incertezas. Medo de aceitar, medo de não aceitar.

Enquanto isso, decidimos não contar abertamente para as pessoas enquanto não houvesse mais certezas e informações por parte da Universidade e do Consulado. Tudo dependia muito de como era o programa, quanto pagavam, quais as condições da viagem, da moradia, do visto, etc. Era muita coisa para pensar, saber e planejar. E a gente não queria a expectativa das pessoas pesando... Especialmente porque, graças ao nosso mindset naquela época, parecia que ninguém entendia as questões problemáticas que a gente previa. Todo mundo só dizia (ou diria) que era uma oportunidade maravilhosa e que ia ser incrível e a gente ia amar. Então, quanto não tinha mais informação a gente segurou a informação.

Gradualmente ao longo dos meses seguintes, as informações foram sendo construídas, mas era tudo muito lento e muita coisa era complicado (por exemplo, ninguém cuidaria por nós de moradia, alimentação, plano de saúde, transporte... Tudo seria por nossa conta, menos a documentação e a passagem - da Mo - para os EUA). As coisas iam se acertando e ainda assim, rolava um medo dela perder a estabilidade do emprego aqui, até porque esse programa é de dois anos e depois ela poderia voltar a lecionar na escola que já gostava um tanto. Então, ela pediu uma licença não-remunerada de dois anos, justificando que ia para o Leitorado e isso poderia engrandecer sua experiência profissional e didática e poderia trazer coisas bem interessantes para os alunos da rede municipal daqui que não são falantes nativos de português. Não deram a licença. Ela entrou na justiça ($$$) pra garantir a licença (que é direito dela) e mesmo assim não deram. A solução seria exonerar. O que tiraria a estabilidade dela e a certeza de um emprego quando voltasse. Em meio a tudo isso, ela continuava dando aulas e participando ativamente da escola e conseguiu defender o tão trabalhoso doutorado.

Outra coisa que deixava a gente tenso era que as aulas nos EUA começariam na última semana de agosto, e a Mo precisaria estar lá, de preferência, uma ou duas semanas antes disso. Mas os trâmites burocráticos não andavam tão rápido e o lance da licença não se resolvia. Até que chegou junho e julho, e aí veio o contrato, os documentos de visto, o resultado da ação na justiça, a correria de ir pra São Paulo fazer as coisas do visto e passaporte, resolver moradia, resolver grana, cartão, contas, celular, malas... O visto dela foi aprovado no dia 15 de agosto, o passaporte ficou pronto pra ser retirado no dia 22 e a viagem foi marcada pra dia 22 às 23h, para que ela chegasse na terça, dia 23 e já desse aulas. Pensa numa correria pra tudo dar certo.

Ah, no meio disso tudo, eu decidi não ir em agosto, porque quando as certezas chegaram, ficaria absurdamente caro comprar uma passagem e me manter lá pra voltar depois de uns 15 dias (tenho várias responsabilidades e eventos até dezembro...). Ao mesmo tempo, apareceu o Projeto Didático, que me ajudou a segurar bem as pontas financeiramente por aqui. Terapia Vol2 foi produzido e impresso e eu ainda tinha que enviar tudo pros apoiadores. Passei no FIQ, na CCXP. Muita coisa pra me manter ocupado aqui, inclusive e não menos importante, cuidar do que vai ser feito do nosso apê, do nosso carro, nossas coisas, etc.

Deu tempo de se despedir de muita gente e de contar a coisa toda pra quem não sabia. Mas era, ainda assim, super corrido. A Monica viajou naquela segunda depois de um dia longo e cansativos em São Paulo, onde ela teve que trabalhar preparando as aulas enquanto íamos de consulado para almoço e aeroporto. Nos despedimos e eu, a cada abraço e beijo, ficava mais emocionado, até que desmontei chorando no ombro dela. Era saudade antecipada, medo, cansaço, alegria, orgulho e alívio. Que baita jornada. 


Ela merece demais essa oportunidade. É uma chance de retomar sua carreira acadêmica e é algo que engrandece o currículo e pode gerar coisas muito bacanas lá na frente. Era, pelas nossas estimativas e planos, algo como "a última chance" de fazer algo assim, por causa dos nossos planos futuros, e decidir aceitar essa aventura significa mudar muito do que tínhamos planejado. Mas era agora ou nunca, e foi agora. Estou muito, mas muito orgulhoso dela e dei e continua dando todo meu apoio para que ela se realize nessa nossa etapa.

Ela já chegou naquela terça-feira e deu aula, conheceu um monte de gente, a universidade, os colegas, os alunos, a cidadezinha (é zinha mesmo, fica dentro de Nova York mas lá no meio de Long Island). Agora, já estabelecida, confortável e confiante, as coisas ficaram mais tranquilas. Ela está feliz! É uma mudança imensa e muito difícil, mas deu tudo certo. 

E eu?

Bom, eu fico aqui até dezembro. Após a CCXP, tendo resolvido todos meus projetos e trâmites, vou para o EUA morar com a Monica até o fim do Leitorado. E vai saber oque mais vem pelo frente, né? Essa mudança é imensa para mim também e traz oportunidades muito interessantes. Faz muito tempo que quero entrar no mercado/cena americanos. E apesar de saber que não preciso estar lá, presencialmente, pra isso, estando lá pode abrir outras portas. Ainda estou trabalhando no Projeto Didático, ainda tenho envios de Terapia pra fazer e eventos pra ir. Ainda tenho projetos pra desenvolver, mas tudo isso pode ser feito em qualquer lugar, desde que eu tenha como continuar trabalhando, escrevendo, gravando, editando, desenhando, criando. 

Ufa, acho que é isso. Obrigado por ter lido tudo isso! Tem sido um ano e tanto pra Família Pinguim, mas estamos felizes e aliviados agora. E empolgados com oque vem pela frente. Mais uma vez, todo meu amor e apoio pra Professor Dra. Monica, amor da minha vida. Logo a gente vai estar juntos de novo.



Voa alto, Pinguim! 

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