terça-feira, 19 de maio de 2009

...e mais uma polêmica sobre HQs.

Então que a Secretaria Estadual da Educação de São Paulo comprou um monte de livros para distribuir em Escolas públicas. E no meio desses livros, havia "Dez na área, um na banheira e ninguém no gol", da Editora Via Lettera (que publica a Front). E esse álbum é, na minha opinião, destinado a um público adulto. 18 anos pra mais, no mínimo 16 anos.

Aí que dei essa zica aqui ó:
Saiu no G1, saiu na SP-TV, acabei de ver na chamada do Jornal Regional aqui de Campinas e região. Claro que dá o que falar. Tem arma, bunda, palavrão, e por aí vai. Claro que não é indicado para o público de 9 anos, terceira série, que receberia (ou recebeu?) o livro.

Agora, com vocês, meus caríssimos amigos - e respeitadíssimos autores/estudiosos de HQ, Paulo Ramos e José Alberto Lovetro (conhecido como JAL). A opinião dos dois é para mim, mais válida que o dos veículos de comunicação de massa já mencionados, pois, nesse assunto, as autoridades são os já mencionados Paulo e Jal.

O Paulo escreveu em seu Blog dos Quadrinhos uma boa explicação sobre o assunto, que você pode ler aqui.

O JAL enviou uma carta e,m nome da ACB (Associação dos Cartunistas do Brasil), que eu reproduzo abaixo:
"

ASSOCIAÇÃO DOS CARTUNISTAS DO BRASIL – ACB

Rua Lourenço Rodrigues Souza, 174 – São paulo/SP – CEP 02760-050 – Tel 011 3851 5221

www.hqmix.com.brhqmix@hqmix.com.br


Sobre reportagens a respeito do livro “Dez na área, um na banheira e nenhum no gol” da Editora Via Lettera.

Hoje, dia 19 de maio, na mídia, houve a repercussão de uma matéria sobre o mau uso do livro de quadrinhos acima citado onde vários autores importantes da área desenharam sobre o tema futebol.

O livro, premiado e trazendo desenhistas também premiados, inclusive fora do Brasil, foi mostrado como material de linguagem chula e arte sexista imprópria para distribuição para crianças da rede pública de ensino como material paradidático.

A Associação dos Cartunistas do Brasil, que vem participando por anos da luta pelo reconhecimento do autor brasileiro na área dos quadrinhos e humor gráfico, não pode deixar de dizer que as informações colocadas, dessa forma na mídia, podem depor contra um trabalho sério nas escolas de utilização de publicações de quadrinhos como ferramenta de incentivo à leitura e cultura nacional.

Fica evidente que houve um descuido de quem escolheu esse título para distribuição para o ensino básico, mas não se pode dizer que os artistas estão deturpando algo como fica a impressão das matérias. Uma criança de 9 anos assiste ao futebol com o pai, que não deve economizar em seu linguajar diante da emoção que o esporte exerce sobre seus torcedores. As transmissões de futebol não conseguem evitar o som dos palavrões cantarolados pelas torcidas. Portanto não é criação dos desenhistas a linguagem chula, mas simplesmente estão colocando o que todos vêem num jogo de futebol pelas transmissões livres de censura.

Ao mesmo tempo, a forma como são colocadas as mulheres no futebol com as “Maria Chuteira” ou “travestis” que se relacionam com jogadores, nas reportagens, que não são também censuradas, só podem ter um reflexo nas histórias dos autores do livro.

O que vemos é uma crucificação de um trabalho sério de artistas e da editora, muito bem conceituados e que podem ser sim distribuídos em universidades para o estudo do mundo do futebol e sua influência na cultura popular.

A utilização dos quadrinhos na sala de aula é confirmada por educadores como fonte importante para agregar valor de conteúdo educacional para o interesse da criança em várias matérias do currículo escolar. Isso foi conquistado depois de muita luta contra o preconceito que antes havia e que caiu por terra ao vermos em cada lar uma criança de cinco anos já se interessar por leitura quando vê revistas infantis na sua frente.

Apenas houve um equívoco na escolha pela faixa etária a que se destinava os livros e não uma publicação censurável como pode ter passado para o grande público.

Pedimos aos meios de comunicação que, sempre que houver algo tão importante como esse tema, também coloquem a opinião de uma pessoa especializada na área, que tenha algum conhecimento da linguagem em discussão.


José Alberto Lovetro (JAL)

Associação dos Cartunistas do Brasil - ACB"


Bom, como esse assunto vai render muito, fecho por aqui. Deixo meus leitores com a coceira de pensar nisso, e ver o que acham dessa coisa toda. Comentem, reflitam, e se possíbvel, leiam a HQ, que é bem legal - mas não é MESMO indicada para Escola.


2 comentários:

  1. Quem escolheu o álbum deve ter pensado que "se é HQ, então é infantil", e nem leu...

    Acompanhei isso no noticiário durante o dia. A imprensa massacrou a HQ, não quis nem saber se era uma obra ADULTA de qualidade. Chamou de "livro pornográfico" e comparou com o livro de Geografia que tem 2 Paraguais.

    Patético no vídeo o Serra falando da qualidade do desenho, ele entende muito disso...

    O Caco Galhardo também comentou
    (blogdogalhardo.zip.net)

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  2. A questão não é se o livro é pornográfico ou não. A questão é quem selecionou o livro para fazer parte da grade curricular dos alunos.
    Isso só prova que ninguém lê os livros que irão ser usados em sala de aula. Os autores de Dez na área, não são responsáveis pela falta de supervisão no ensino. Não é de hoje que livros mal elaborados são utilizados em escolas. Erros gramaticais,erros de geografia, erros de cálculos em livros de matemática e agora erro em selecionar o livro errado.

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