Decidi entrar no desafio por causa do Rafael Vasconcellos, o Abel, um grande artista que admiro demais (tenho, inclusive, três originais dele em casa, hehe), e também um amigo querido dos eventos de Quadrinhos desde 2009. A ideia do Desafio veio do Noah Bradley (veja aqui como ele elabora o desafio, entenda as regras básicas e faça também!).
Então, qual é meu objetivo nesse Desafio dos 21 Dias? Estabeleci uma meta de estudo um pouco complicada, mas funcional. A coisa precisa ser interessante o suficiente para você QUERER FAZER. Eu sei o quanto a PREGUIÇA, a DISTRAÇÃO e a INÉRCIA são fatores poderosos quando falamos de estudar arte (e prometo um texto sobre isso para breve). Então, meu tema/meta/objetivo teria que ser algo que me fisgasse e me fizesse sair da zona de conforto.
Escolhi o (modesto) tema: releituras de obras de artistas que me influenciaram, não necessariamente com a mesma técnica.
Comecei na segunda, dia 30 de maio, com uma releitura de um desenho do Mike Mignola (Hellboy), o qual tenho estampado numa camiseta. A ideia é respeitar a composição, o gesto do personagem, ângulos, e neste caso, paleta de cores. Usei caneta pincel e marcadores, no meu traço. O mais interessante, ao meu ver, é o quanto a obrado Mignola funciona pela síntese. Tudo é angular, esteticamente sucinto mas ainda assim, com uma pegada pesada, gótica. Eu amo a síntese que ele atinge, mas sei bem que meu estilo tradicional não é assim. Adaptar à minha linguagem fez com que o personagem perdesse muito do seu charme... E me fez evidenciar quão ímpar é o estilo do Mignola (não que eu já não soubesse...)
Na terça, dia 31 de maio, fiz uma releitura de uma pintura do Henri de Toulouse-Lautrec, chamado "A Lavadeira". É uma pintura linda, bem melancólica. Eu gosto de diversos trabalhos dele, mas esse me fisgou mais naquele dia. Usei apenas caneta, 0.3, 0.5 e 0.8. Foi bem interessante fazer uma releiturade um trabalho esteticamente diferente do meu, mas tematicamente alinhado. Optei pelas hachuras para conseguir lidar melhor com as sombras do cenário. A ideia era usar marcadores pra moça, mas achei melhor nivelar o acabamento.
Quarta tive um pouco menos de tempo, mas usei isso a meu favor, estabelecendo um desafio um pouco maior... ou menor. Escolhi uma foto do Henri Cartier-Bresson para adaptar. Goste demais da temática e da proposta dele, ao registrar momentos cotidianos que só são visíveis ao olhar dos atentos e pacientes. E a beleza desses momentos só aparece, também, para quem consegue poetizar, interpretar e dar significado às coisas. Nunca é só o que você vê (mesmo que isso, por si só, já seria bem legal). Sempre pode ter algo a mais, alguma coisa que se sente a partir da imagem. O desafio neste caso foi fazer a arte menor. Enquanto nas anteriores tive um espaço um pouco maior que o A4 para trabalhar, desta vez escolhi um formato bem menor: fiz uma moldura de cerca de 10x16cm e optei por usar marcadores, sem contornos. Isso ajudou a perder uma pouco da definição das formas, ganhar mais na mancha e na sugestão do que no detalhamento.
Quinta-feira é o dia em que mais dou aulas. Das 9h às 21h30 estou comprometido com a Pandora, e não consegui usar nenhum intervalo para o desafio. Cheguei em casa cansadão e decidi não desenhar.
Na sexta-feira, dia 3 de maio, fiz uma releitura da capa de uma edição americana de Retalhos, do Craig Thompson. Uma das minhas graphic novels favorita de todos os tempos, conversa muito com o meu trabalho de começo de carreira, a série Pieces e o momento em que comecei a usar e entender melhor o pincel e nanquim. Quando li Retalhos já vinha produzindo as HQs iniciais da Pieces, e o contato com a poética sublime do cotidiano pelos olhos do Craig me deu uma inspiração maior ainda. Até hoje revisito essa obra e admiro seu trabalho. Como nossos traços têm semelhanças, parece que fui mais pro lado de emular o estilo dele... mas na verdade, desenhei como eu desenho. Tive o prazer de conhecer o Craig no meu primeiro FIQ, em 2009, ano do lançamento de Retalhos no Brasil.
Sábado foi a vez de desenhar uma releitura de Bone, do Jeff Smith. Bone é uma das HQs mais bacanas que já li, e é uma pena imensa que não seja publicado decentemente no Brasil. Duas editoras já tentaram. A atual está ainda no começo, mas como não aproveitou a vinda do Jeff pro Brasil (ano passado, no FIQ) para lançar o volume 2, e até hoje não o fez, pode ser que leve um booom tempo pra vermos Bone completo. Que pena. Usei caneta pincel e canetas de nanquim descartável. A imagem que escolhi foi a capa do Volume 2 da Via Lettera. Não gosto das cores, mas o desenho é bacana e cabia dentro da minha janela de tempo. Desenhar o Bone é divertido pois ele é um bonequinho sem muitos detalhes, mas como no caso do Mignola, o desafio é adequar o personagem ao seu próprio traço e fazê-lo ainda funcionar sem perder a essência do design original.
Domingo, após um dia merecido de descanso, passeio, boa comida e excelente companhia, tomei um chá e decidi tirar definitivamente o atraso da produção que aconteceu na quinta. Estava dando uma estudada na obra de Egon Schiele. Não o considero uma influência tão grande nos anos anteriores, mas desde que comecei a prestar atenção nele (valeu, Flávia!) fico encantado com os desenhos e a síntese do traço fluido, que simplesmente dança e passeia no papel sem medo de distorcer as formas. Ele não e importa com a anatomia correta, e sim com algum tipo de expressividade e registro de outras sensações... Gosto muito da simplicidade e do estranhamento causado pelo Mímico e sua pele branca e mãos grotescas. Essa foi a primeira releitura de Schiele. Usei caneta nanquim e marcadores da Tombow.
Depois, relendo o mesmo artista, fiz a Mulher com Joelho Dobrado. Essa já é uma pintura, e pensei em fazê-la no meu estilo mesmo, arte-final com caneta pincel e tudo mais. Talvez colorir com marcadores. Mas enquanto rascunhava com o lápis e ia percebendo como ele também rascunhava, comecei a gostar cada vez mais das linhas fluidas no papel. Peguei um lápis mais escuro pra começar a reforçar algumas formas, e como a coisa foi ficando cada vez mais interessante, decidi finalizar com um lápis integral 6B. Achei o resultado bem legal e desisti do nanquim.
Bom, pessoal, é isso. Esse é o resultado da primeira semana do Desafio dos 21 Dias para se tornar um artista melhor. Vocês fizeram o desafio Estão fazendo? Deixem links pros resultados nos comentários! Agradeço demais pelos likes, comentários e carinho tanto no Facebook quanto no Instagram, onde estou postando tudo isso primeiro. Esse feedback de vocês é muito importante!
Abraços e ótima semana a todos!
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